Juízes completam 26 anos na magistratura de MS
21 de fevereiro de 1991. Quatro candidatos aprovados no XIV Concurso para o cargo de Juiz Substituto do Estado de MS: Edna Serrou Camy, Jairo Luiz de Quadros, Cezar Luiz Miozzo e Wagner Mansur Saad foram empossados para integrar a magistratura sul-mato-grossense. Vinte e seis anos depois, apenas Miozzo e Wagner estão na ativa. Edna e Jairo Luiz já estão aposentados.
A data foi comemorada pelo juiz Cezar Miozzo. Há 15 anos na Capital, ele lembra que no início da carreira a estrutura de trabalho era menor e as demandas eram diferentes, já que o Judiciário não era tão buscado para solucionar os problemas da população.
“A era dos computadores estava começando e trabalhávamos com máquina de escrever. Não havia celular nem internet de fácil acesso. Tínhamos um fax. Se hoje se reclama de estrutura deficiente, imagine naquela época. O mundo avançou muito e hoje é tudo mais fácil. Os processos são grandes, com teses volumosas. No início não havia tantas informações”, lembrou.
Quase três décadas depois de optar pela magistratura, Miozzo é enfático ao afirmar: faria a mesma escolha. “Tenho a certeza que fiz a escolha certa, mas é preciso ter vocação. Aos que buscam essa carreira diria: temos que pensar que atrás de um processo existem pessoas, com suas angústias, na expectativa de que se resolva a demanda”.
Dos lugares pelos quais passou, ele lembra com carinho de todas as comarcas, porém não esconde a paixão por comandar a 8ª Vara do Juizado Especial – Justiça Itinerante. “Atuar na Itinerante, em contato direto com a população, com pessoas que necessitam da justiça é gratificante. Muitas vezes os problemas são resolvidos de forma simples e você abre a porta que tem a solução para o que aflige aquela pessoa. Resolver processos, demandas é a profissão que escolhi e existe sempre o ser humano atrás do processo”, ressaltou.
Dos 26 anos de judicatura, sendo 11 em Campo Grande, Wagner Saad tem uma visão muito pessoal e peculiar do tempo passado no interior. Ele acredita que em comarcas de primeira entrância o resultado do trabalho está mais próximo da atuação do magistrado.
“Quanto menor a sede da comarca, mais se conhece as pessoas, maior é o contato extraprocessual e o juiz consegue perceber um reflexo mais forte do trabalho na comunidade. No interior existe a identificação física do Poder Judiciário com quem ocupa momentaneamente o cargo de juiz. Na Capital não existe isso porque todos estamos envolvidos com outras preocupações. As atenções são outras”.
Será que se arrepende da escolha pela magistratura? Ele diz que não e afirma categoricamente que tem ainda mais convicção de ter optado pela carreira certa. “Tenho absoluta certeza porque hoje talvez eu me conheça melhor. Os motivos daquele momento foram diferentes, entretanto não me vejo fazendo outra coisa”.
Em um ponto Miozzo e Wagner são unânimes: o ser humano está em primeiro lugar. “A preocupação sempre foi entregar uma solução para o problema de alguém. Temos tipos diferentes de problemas e estes devem ser enfrentados de maneira diferente, mas nossa função não muda”.
Em tom saudoso, ele lembra que se juntava com outros dois colegas na casa do amigo de turma de faculdade Cezar Miozzo para estudar para o concurso da magistratura. “Estudávamos mais de três horas diariamente juntos e depois cada um fazia seu horário porque todo mundo trabalhava”.
Wagner citou um ponto importante: hoje a preocupação maior é a formação do juiz, em prepará-lo melhor para enfrentar a realidade no interior. Não existe um perfil específico de juiz, cada um tem um jeito de atuar. Aos novatos na carreira, Saad diria: “Bem-vindos! Não desanimem porque os percalços vão acontecer. Tenham certeza do que estão fazendo, porque se não se arrependem do que fizeram hoje, não se arrependerão no futuro”.
Ao concluir, ele citou uma frase que ouviu do juiz Ricardo Galbiati, titular da 2ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos da Capital. “O juiz que não consegue defender seus próprios direitos, não consegue ser juiz de ninguém”.