Comarca da Capital terá uma mulher na direção do Foro pela primeira vez
“Motivo de muito destaque, muito orgulho para a magistratura ter a primeira mulher diretora do foro da comarca de Campo Grande”. A afirmação é do juiz Giuliano Máximo Martins, presidente da AMAMSUL, ao ser questionado sobre o fato de a juíza Denize de Barros Dodero ter sido nomeada para ser diretora do Foro da Capital.
Instalada em 1911, a comarca de Campo Grande completará, no dia 12 de maio, 110 anos de sua instalação e, pela primeira vez, terá uma mulher no comando. A nomeação de Denize foi publicada no Diário da Justiça desta segunda-feira (25). Titular da 1ª Vara Bancária da Capital, ela substitui o juiz Flávio Saad Peron.
Para Giuliano, isso mostra que as mulheres estão realmente em pé de igualdade com os homens e têm total condição de exercer uma administração tão boa quanto a dos juízes, ou até mesmo melhor, diante de sua sensibilidade, de seu lado materno. O presidente da AMAMSUL acredita que a mulher tem uma visão muito mais humanista e profissional como gestora.
“Nós, da AMAMSUL, estamos felizes e orgulhosos com a decisão do presidente do TJMS, Des. Carlos Eduardo Contar, de nomeá-la para cargo tão importante e desejamos muito sucesso para a Denize. Desejamos que ela exerça esse cargo de direção do Foro com muita simplicidade, direção, correção, e que seja a melhor possível para magistrados e servidores. Parabéns, Denize”, disse Giuliano.
Denize Dodero será a 31ª a ocupar a direção do Foro desde a implantação do Estado de Mato Grosso do Sul, em 1979. Antes dela, outros 30 juízes foram empossados na função de juiz diretor, alguns por dois anos, outros por até três anos consecutivos, ou ainda ocuparam o cargo em mais de uma ocasião, contudo, em nenhuma nomeação o comando foi designado a uma mulher.
Assim, na gestão 2021/2022, estarão sob os cuidados da juíza um quadro funcional de 50 magistrados, 300 servidores, de 90 estagiários, 93 mirins, 79 terceirizados, cinco reeducandas e quatro colaboradores, por meio de convênio com a Associação Pestalozzi, totalizando 621 pessoas.
Em uma rede social, no dia em que sua nomeação foi publicada, Denize escreveu: “Em um mundo plural, quando o gênero deixa de ser determinante na distribuição de responsabilidades e espaços de poder, a igualdade de oportunidades é uma realidade. Gratidão e esperança na nova Administração do TJMS, em que sou designada pelo nosso presidente, Des. Carlos Eduardo Contar, como a primeira mulher a exercer a Direção do Foro na Comarca de Campo Grande. Farei o meu melhor. Que seja um biênio de excelência para todos”.
Desafios – Questionada sobre como é ser a primeira mulher a assumir o cargo desde a criação da comarca e instalação do Fórum, a juíza confessou que recebeu a designação com muita gratidão e esperança na gestão do Des. Contar, no comando da justiça estadual nos próximos dois anos. Ela acredita que foi uma escolha desvinculada de gênero, mas pautada na igualdade de oportunidades.
“Uma administração voltada à valorização de habilidades e competências, baseada em meritocracia e fundadora de um contraponto a uma tradição de 110 anos de transcendência exclusivamente masculina na direção do Foro em nossa comarca de Campo Grande. É uma conquista coletiva, que em muito ultrapassa minha individualidade. Tenho ciência de que essa oportunidade é fruto de muitas em mim e espero que seja motivo de inspiração e realização de infinitas possibilidades para as mulheres, notadamente de carreiras jurídicas. Uma honra assumir essa função em representatividade de todas as juízas de nosso Estado. Orgulho e agradecimento imenso pela confiança”, declarou.
Diante de uma realidade diferente, como é ser a primeira mulher a assumir o cargo desde a criação da comarca e instalação do fórum de Campo Grande? Denize garante que é uma grande honra ser precursora e representante dos anseios de tantas mulheres nas carreiras jurídicas, e deixou claras a imensa gratidão e a lealdade ao presidente do TJMS, Des. Carlos Eduardo Contar, pela confiança nela depositada.
“Inicialmente, quero agradecer as palavras generosas e a acolhida carinhosa do presidente da nossa AMAMSUL, colega Giuliano, que gentilmente ofereceu a oportunidade de mostrar um pouco das minhas pretensões nas funções que me foram confiadas, bem como, dirigir palavras de modo mais direto aos meus colegas magistrados e magistradas e nossos servidores para, de modo mais objetivo e concreto, ponderar os desafios desse início de gestão”, disse ela.
A diretora do Foro ressaltou ainda que a possibilidade de sua ascensão ao exercício do cargo, por si só, demonstra a identidade de vanguarda da nova administração e suas diretrizes, no sentido de não fazer uso do gênero como condição de preferência ou de exclusão nas relações de trabalho. “Circunstância muito aguardada e aclamada em nosso meio e que gera o anseio de novas e ainda maiores possibilidades dentro do Poder Judiciário”, completou.
Questionada se acredita que o fato de ser mulher vai gerar mais expectativas quanto à sua administração, Denize apontou um trecho do filme sobre a vida da juíza Ruth Bader Ginsburg, primeira mulher a fazer parte do seleto grupo de juízes da Corte Suprema dos Estados Unidos, de quando ela ingressa no curso de Direito em Harvard e o reitor a questiona sobre o motivo de ocupar uma vaga que poderia pertencer a um homem.
“Como se a mulher tivesse de se explicar, de se desculpar em tal situação, ou ainda ser dotada de capacidade muito superior como explicação dessa possível ocorrência.
Muito se evoluiu e os tempos são outros, mas a ausência ou mesmo o reduzido número de mulheres em cargos de ascensão ainda incomoda. O ineditismo de uma mulher pela primeira vez à frente desse cargo desperta, no mínimo, curiosidade. O fato desse cargo nos ter sido negado por tanto tempo, em que pese a existência de inúmeras magistradas extremamente aptas ao seu exercício, é o motivo de tamanho festejo diante dessa nomeação. É mais uma porta aberta, uma conquista concretizada, um tabu afastado, em uma tão longa e intensa busca pela igualdade de oportunidades e direitos”.
Sobre as metas a serem estabelecidas para a gestão, a juíza explica que está se familiarizando com as funções, conhecendo melhor a estrutura para um mais apurado diagnóstico de gestão e estabelecimento de metas e prioridades, contudo, adiantou que pretende ter uma gestão totalmente colaborativa.
“Quero ouvir meus colegas, conhecer a realidade e as dificuldades de cada setor e tentar soluções criativas para melhorar a nossa estrutura. A função de diretora do Fórum é limitada, mas, com parcerias, podemos ter expectativas além do ordinário. Tenho ciência da dificuldade orçamentária e também estou atenta ao planejamento tão maior e muito inovador pela nossa administração para o próximo biênio, tanto de recursos humanos como de tecnologia”, explicou.
Assim, ela pretende trabalhar para encontrar soluções e colaborar para a melhor adaptação ao plano gestor, buscar meios para sanar os problemas mais urgentes de modo criativo e sem grandes surpresas ou impactos orçamentários, além de estabelecer todas as possibilidades de parcerias para aumento do quadro de pessoal até a consolidação definitiva das ferramentas que possibilitarão menor carência de recursos humanos.
“Quero cuidar também da nossa estrutura física, buscar melhor qualificação e atualização para nossos servidores, desenvolver meios para construção de uma imagem mais positiva junto à nossa população, dar continuidade e amplitude aos nossos convênios para maior inclusão social, buscar proximidade com outras instituições e ainda criar mais possibilidades de interesse e convívio mais próximo em nosso meio”, garantiu.
Sobre estar preparada para os desafios do cargo, ela esclareceu que desejava muito essa oportunidade e quer fazer o seu melhor, mas sem descuidar da necessidade de conhecimento e qualificação em medidas de gestão e liderança.
“O grande desafio, além do estabelecimento de boas parcerias e do imprescindível apoio da nossa atual administração, bem como, da nossa associação, realmente é conhecer e identificar, em um universo tão amplo, quais medidas são realmente possíveis, desejadas e eficazes ao público a que se destina. Por isso, meu desejo de um contato maior e mais próximo com todos, pois por melhor que seja a intenção, a boa gestão é direcionada e avaliada pelos seus destinatários. Para tanto, meu apelo pela colaboração e apoio de todos, sem exceção. Estou à disposição e com o bom ânimo para bem servir, não no sentido de submissão, mas de desapego de ego e total amor e dedicação a essa causa e à minha instituição”.
Sendo tão querida e respeitada no meio jurídico, que tipo de manifestações recebeu a responsável pela direção do Foro da Capital desde a publicação da portaria que a designou para o cargo? “Recebi inúmeras mensagens de apoio e muitas felicitações. Sem dúvida, felicidade se celebra no plural. Obrigada pelo carinho, conto com o apoio de todos e parafraseando nosso presidente Contar, em seu discurso de posse: Ao trabalho. Ao sucesso”, concluiu.
Fotos: Danúbia Krause (Ascom TJMS)