Juízes e juízas completam 15 anos de magistratura
No dia 16 de agosto de 2006, 13 novos juízes foram empossados para judicar no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul. Naquela data, ingressam na magistratura Adriano da Rosa Bastos, Alexsandro Motta, Anderson Royer, Cláudio Müller Pareja, Eduardo Lacerda Trevisan, Giuliano Máximo Martins, Jeane de Souza Barboza Ximenes, Marcus Abreu de Magalhães, Paulo Roberto Cavassa de Almeida, Penélope Mota Calarge Regasso, Plácido de Souza Neto, Ronaldo José da Silva e Tatiana Dias de Oliveira.
Todos foram aprovados no XXVII concurso público para ingresso na magistratura e naquela edição do certame houve 529 candidatos inscritos. Ao final de todas as fases, somente os 13 conseguiram aprovação. Passados 15 anos da posse, como estão esses juízes nos dias atuais? Dos 13 apenas Ronaldo José da Silva não está judicando em comarca de segunda entrância, pois foi aprovado em concurso para juiz federal e deixou a justiça estadual.
Para Penélope Mota Calarge Regasso, ingressar na magistratura foi muito além de uma conquista, foi uma realização de vida. “Olhando hoje para esses 15 anos, entre muitos desafios e aprendizado, vejo que a judicatura era mesmo o caminho a ser trilhado. Sempre penso no impacto que as decisões têm na vida das pessoas e procuro me pautar no equilíbrio, esforço, sensibilidade e comprometimento”, disse ela.
Antes de ingressar na carreira, Plácido de Souza Neto era auditor fiscal da Receita Federal, trabalhava na fiscalização tributária, mas quando fez o curso de direito, identificou-se com a figura do juiz, com o papel de pacificação social, de dar a cada um o que é devido, com a ideia de contribuir com o que é justo, fazendo com que o direito de cada qual seja respeitado.
“De alguma maneira, me via com aptidão para decidir e aplicar o direito. Eu já era casado, tinha meus dois filhos. Estudei aproximadamente um ano e meio até a aprovação. Durante esses 15 anos, convenci-me de que a magistratura é uma vocação. Se o exercício da judicatura for motivado exclusivamente por questões peculiares, financeiras, isso vai gerar uma grande decepção, na minha opinião”, afirmou.
Alguns anos atrás, lembra Plácido, a remuneração do magistrado era o objetivo a ser alcançado até por outras carreiras, que buscavam equiparação. Hoje, no entanto, muitas tentam se desvincular de limites e restrições remuneratórias que afeta a magistratura.
“O exercício da magistratura é uma vocação. É algo para o qual o magistrado e a magistrada devem ser talhados, porque especialmente na justiça comum, somos chamados a decidir sobre a vida das pessoas, sobre bens mais preciosos para a vida de qualquer cidadão, sua liberdade, sua família. Às vezes, a saúde está em jogo no processo. Quase todas as semanas, desde que entrei na magistratura, me deparo com dramas pessoais por trás de um processo”,
Ele citou que em nos processos existem questões puramente patrimoniais, porém, volta e meia nós, como magistrados, se deparamos com processos em que a vida da pessoa está em jogo, toda uma história. “Tudo o que a pessoa construiu, ao longo de anos e anos, seja no aspecto familiar, no aspecto da reputação, patrimonial e, em um processo, aquilo pode ser transformado e isso exige do juiz. A grande lição que tiro depois de 15 anos de magistratura é reconhecer a limitação do direito e nossa limitação como seres humanos, porque existem processos em que realmente quando chega a sair uma sentença, o problema infelizmente já se tornou insolúvel. Temos que admitir que alguns dramas humanos realmente estão além do nosso alcance para resolver. Essa humildade e disposição para aprender, compreender o ser humano na sua amplitude, é algo que reputo muito importante para um juiz”, completou Plácido.
O ingresso na carreira da magistratura foi um dos momentos únicos na vida de Tatiana Dias de Oliveira Said, após três anos de estudo, inicialmente com 10 horas diárias e depois com menos, pois trabalhava meio período. Contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária e solidária é o que a motiva a continuar, apesar das dificuldades da carreira.
“Nestes 15 anos foram diversos aprendizados, alegrias, desafios, renúncias e decepções, mas nunca me arrependi da escolha que fiz. Realizamos uma atividade extremamente importante, que é a de julgar todo tipo de conduta e aplicar a lei do caso concreto, onde diversas demandas são trazidas até nós, envolvendo os mais diversos interesses e mazelas da sociedade. Somos considerados os juízes mais produtivos do mundo e temos que lidar com uma alta demanda de processos, além de várias renúncias pessoais, por isso temos que manter vivo o ideal de continuar a cumprir o juramento que fizemos naquele dia”, afirmou Tatiana.
O vice-presidente da AMAMSUL, Claudio Müller Pareja, optou pela magistratura quando ainda estava no ensino médio e prestou vestibular para direito já pensando no concurso.
“Durante a faculdade, tive a oportunidade de estagiar com dois juízes e, no quarto ano, fui para um escritório de advocacia. Fiquei no escritório por dois anos, me formei e comecei a advogar até ser aprovado no concurso, para o qual estudei três anos”, explicou Claudio.
Eduardo Lacerda Trevisan já alimentava o sonho de ser juiz desde os bancos universitários, fez estágio com alguns juízes, frequentava e fórum e preparava-se para a magistratura. Contudo, a vida trouxe caminhos inesperados e ele acabou enveredando na política por tradição familiar.
Assim, antes de ser juiz, Trevisan foi prefeito por um mandato e deputado estadual por uma legislatura – ambos no Paraná. Então, ele deixou a vida pública e foi advogar, mas não estava feliz. Advogou por oito anos. Resolveu tentar a magistratura e fez um curso preparatório, estudando de sete a oito horas diárias, de segunda a sábado. Já estava casado e recebeu muito apoio da esposa, dedicando-se inteiramente ao concurso.
Eduardo foi aprovado em MS e em SP e hoje reconhece que a melhor escolha que fez foi se decidir pela judicatura em Mato Grosso do Sul, porque considera a magistratura de MS mais moderna, que está sempre atenta e antenada com as novidades, modernidades.
“O judiciário de MS está sempre a frente nas inovações, nos avanços, sempre aberto às novidades para se aproximar dos jurisdicionados, para dar respostas mais rápidas. Depois de toda a volta, passando pela vida pública, retomei meu sonho de ser juiz e o conquistei. Sou muito feliz e acho essa atividade uma das mais nobres. Realizar justiça, pacificar conflitos e trazer paz à sociedade faz com que me sinta muito realizado. Hoje me sinto sul-mato-grossense, fiz muitos amigos aqui”, acrescentou.
Trevisan ressaltou que há seis anos é o coordenador do Cejusc de Naviraí e sente que esse tipo de trabalho é um dos mais dignificantes que exerce. “Ver as pessoas se recompor, resolver conflitos, restabelecendo contatos, enfim, a pacificação social tão almejada na jurisdição. Um trabalho maravilhoso e esse é um aspecto da profissão que me gratifica muito”, finalizou.
Giuliano Máximo Martins, presidente da AMAMSUL, não esconde que é muito feliz no Estado que escolheu para viver. Ele é de São Paulo e já estava na fase oral do concurso da magistratura paulista, quando desistiu da prova porque se sentiu bem no território sul-mato-grossense, onde garante: é muito feliz com a família.
“É um grande orgulho fazer parte deste Tribunal de Justiça e sei que temos muito acrescer. Hoje somos uma magistratura muito bem representada no cenário nacional e temos valiosos colegas que nos representam muito bem. Uma felicidade estar aqui e espero que venham mais 15 anos de muito trabalho e luta, porque é o que escolhi para minha vida: aplicar um pouco da justiça”, concluiu.