AMAMSUL retoma entrevistas do “EU, JUÍZA”
Nesta segunda-feira (23), a diretora da Mulher Magistrada da AMAMSUL, Camila de Melo Mattioli Pereira, retoma uma proposta que valoriza a mulher magistrada de MS: “EU, JUÍZA”, uma proposta que homenageia cada mulher magistrada, sua história e trajetória na justiça sul-mato-grossense.
A proposta surgiu no plano de trabalho da nova diretoria, criada no biênio 2019/2020, e que teve a desembargadora aposentada Maria Isabel de Matos Rocha como primeira ocupante do cargo e idealizadora da ação. Na verdade, o “EU, JUÍZA” teve grande repercussão na sociedade por permitir que a população conheça as mulheres fortes, inteligentes e capazes que integram a magistratura de MS.
De acordo com a Camila, a intenção é retomar a ação para permitir que se conheça um pouco das seis novas juízas empossadas em setembro de 2021 e as quatro juízas substitutas em abril de 2022, além de abrir espaço para as magistradas que não puderam participar da primeira rodada de entrevistas.
“A participação na ação “EU JUÍZA”, uma série de entrevistas que se transformou em livro com o mesmo nome, foi muito boa e significativa. Com esta ação, a AMAMSUL mostrou à sociedade a história e a trajetória de magistradas que orgulham a magistratura sul-mato-grossense por seu trabalho e dedicação na distribuição da justiça. Agora, estamos estudando a possibilidade de viabilizar a segunda edição da obra, com as entrevistas anteriores e as novas”, explicou Camila.
O presidente da AMAMSUL, Giuliano Máximo Martins, ressalta que a ação valoriza a participação feminina na magistratura, dando voz às magistradas associadas, e permite que sejam conhecidas pela mesma população que acredita em seu trabalho na prestação jurisdicional.
“O livro “EU, JUÍZA representa um registro histórico, nunca feito de forma tão particularizada pela entidade associativa e sua retomada é a oportunidade de deixar que a população conheça um pouco mais da magistrada que analisa sua demanda, de entender sua sensibilidade e capacidade perceber que todos queremos atingir o mesmo objetivo: a paz social. Temos certeza que nossas magistradas serão melhor compreendidas e valorizadas com esta ação”, afirmou Giuliano.
Juíza substituta – Abrindo a nova série de entrevistas, Laísa de Oliveira Ferneda Marcolini, promovida recentemente para atuar na 2ª Vara da comarca de Costa Rica.
Assim, apresentamos “EU, LAÍSA, JUÍZA”, uma mulher discreta, que mostra suas qualidades de julgadora nas sentenças que profere. Conheça a magistrada.
1) Qual a data de seu ingresso na magistratura?
Dia 15 de setembro de 2021.
2) Está em exercício ou já se aposentou?
Em exercício.
3) Como foi sua posse?
Tomamos posse 14 colegas, dentre os quais sete mulheres e sete homens. A emoção era tamanha, após tantos anos estudando e sonhando com a aprovação. Era uma mistura de felicidade e de animação pelo que estava acontecendo e pelo que ainda estava por vir, no exercício do cargo tão esperado. Além disso, poder fazer o discurso da posse, representando meus colegas, é algo que vou lembrar para sempre com muito carinho. Foi um momento inesquecível.
4) Como foi seu primeiro dia de juíza?
Entrei em exercício na comarca de Brasilândia, na qual fui extremamente bem recebida e fiz inúmeras amizades. Assinar as primeiras decisões foi muito gratificante. Após tantos anos sendo assessora no Judiciário em primeiro grau, era curioso ver agora meu nome nas decisões, termos de audiência, mandados, ofícios, etc.
5) Qual foi seu dia mais feliz de magistrada?
Houve uma audiência, de um caso relativamente simples, mas que me fez compreender meu novo papel e a importância do meu cargo. Era uma ação de alteração de nome, em que a parte autora buscava incluir determinado sobrenome por motivos familiares. Estando todos os presentes de acordo e não havendo controvérsia sobre o pedido, optei por sentenciar em audiência, informando a autora de que ela havia ganhado a ação e que a partir daquele momento seu nome seria modificado. Ela ficou muito feliz e emocionada, chorando muito e agradecendo pela solução da questão.
Um processo que não era complexo, mas que pela primeira vez me fez perceber o “peso” da caneta do magistrado, que por um simples ato muda para sempre o nome, a vida, a trajetória das pessoas.
6) Qual foi a ação mais significativa ou decisão mais marcante da qual se orgulha?
Em Brasilândia, com o apoio da autoridade policial, da promotoria e da defensoria, tomamos algumas medidas importantes para o combate da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Inspirada em decisões que vi nas varas de violência doméstica de Campo Grande, houve a utilização de tornozeleiras eletrônicas para auxiliar no monitoramento das medidas protetivas de distanciamento e até mesmo o comparecimento da autoridade policial em residências para dialogar com casais em potencial conflito, buscando antecipar a solução do problema.
7) O que mais a comoveu na atuação como juíza?
A atuação na área da Infância e Juventude com certeza é a mais delicada e impactante para mim. Influenciar na vida de adultos com nossas decisões já é algo extremamente sério. Modificar a trajetória de uma criança, que acabou de iniciar sua jornada, traz modificações na nossa própria visão de mundo, nossas próprias certezas e opiniões.
Mais do que identificar o “melhor interesse”, a tarefa de tentar trazer felicidade na vida de crianças e adolescentes – que com pouca idade já viveram traumas e riscos diversos – é algo que dá um sentido diferente ao cargo de juiz, além de renovar o entusiasmo em cada sorriso infantil.
8) Qual seu sonho de magistrada?
Por meio do meu trabalho ser instrumento de amor ao próximo, de diálogo e de leveza na vida das pessoas.
9) O que gosta de fazer no tempo livre?
Gosto de fazer trilhas, praticar esportes, viajar, ver filmes.
10) Qual seu desafio pessoal e/ou profissional mais relevante?
Não deixar de acreditar. Todos os projetos trazem desafios, barreiras e percalços. Nem sempre temos os meios necessários para alcançar um objetivo. Ainda assim, é preciso continuar acreditando que os acontecimentos têm uma razão de ser e confiar em nossa força e em nosso potencial.
11) Cite uma mulher inspiradora, brasileira ou não
Teresa de Lisieux, conhecida como Santa Terezinha que, com extrema simplicidade e praticidade, demonstrou ser uma mulher de grande força e profunda sabedoria.
12) Cite uma mulher inspiradora que exerce ou exerceu um cargo no Poder Judiciário
Juíza Lucilene Aparecida Canella de Melo, titular da 2ª Vara da Fazenda Pública de Ribeirão Preto (SP), a quem assessorei por três anos.
13) O que diria hoje em uma frase a uma mulher que quer ser juíza?
Tenha paciência e seja gentil consigo mesma. O caminho para a aprovação é longo, desgastante e solitário – no sentido de que ninguém poderá estudar por você.
Então, leve o tempo que levar, as dificuldades e obstáculos que houverem, tenha consciência de que esse período é parte da sua vida, é tempo de sua existência. Viva-o com qualidade e com sobriedade, para que ao final você esteja forte para exercer o cargo almejado e tenha aprendido mais do que matérias e artigos de lei durante a trajetória.
14) Diga uma frase que a define como mulher magistrada
A vida me ensinou a nunca desistir, nem ganhar, nem perder, mas procurar evoluir.