Eu, Fernanda, Juíza: conheça mais uma magistrada de MS
O mês de julho inicia com mais uma edição do “Eu, Juíza”, uma proposta que vem sendo desenvolvida pela Diretoria da Mulher Magistrada da AMAMSUL desde sua criação. A ideia é valoriza a trajetória de cada magistrada.
Em maio deste ano, a juíza Camila Pereira, atual diretora da pasta, reiniciou a ação com as novas integrantes da magistratura sul-mato-grossense, aprovadas no 32º concurso para a magistratura, em setembro de 2021. Ao final, as entrevistas serão parte de um livro - um registro histórico, nunca feito de forma tão particularizada pela entidade associativa.
Em razão da grande repercussão na sociedade, por permitir que a população conheça as mulheres fortes, inteligentes e capazes que fazem parte a magistratura de MS, podem participar desta nova rodada de entrevistas juízas e desembargadoras que não puderam compartilhar suas histórias na primeira edição do livro.
Esta semana, a juíza Fernanda Giacobo, que atua na comarca de Nova Alvorada do Sul é a participante do “Eu, Juíza”.
1) Qual a data de seu ingresso na magistratura?
Dia 17 de dezembro de 2020 no Tribunal de Justiça da Bahia e dia 15 de setembro de 2021 no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
2) Está em exercício ou já se aposentou?
Em exercício
3) Como foi sua posse?
Inicialmente, fui empossada no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia exatamente no dia do meu aniversário, então, o melhor presente que eu poderia ter. Mas, em razão da pandemia, a posse foi online e muito diferente de tudo que eu imaginava após anos idealizando este dia, já que estava na minha casa, longe de familiares e amigos.
A minha posse no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul foi, sem dúvidas, o dia mais feliz da minha vida. Reunir a família para celebrar a conquista que tanto almejei, ouvir meu nome ser chamado, sentir o frio na barriga ao descer a escada, receber a carteira funcional e vestir a toga foi incrível. A cerimônia foi maravilhosa e esse momento é imprescindível para celebrar a conquista e ter ciência da nossa responsabilidade a partir daquela data.
4) Como foi seu primeiro dia de juíza?
Um mix de sentimentos. Fiquei ansiosa, um pouco insegura e, ao mesmo tempo, muito feliz. É planejar a roupa, o horário, as palavras e as tarefas no dia anterior e, no fim, ser tudo diferente. Como magistradas chegamos sem conhecer os servidores e suas funções, o local de trabalho, o acervo processual, as questões sensíveis e, ao mesmo tempo, temos uma posição de gestão e decisão imediata sobre todos os assuntos. Eu fui muito bem recebida e me senti acolhida por todos os colegas, servidores, colaboradores e representantes dos demais órgãos.
Descobri que o nosso dia a dia vai além de proferir sentenças, decisões e despachos e presidir audiências. Há a parte administrativa, incluindo a gestão de processos e de pessoas: em resumo, o meu primeiro dia no TJMS como juíza foi a certeza de que estava fazendo o que sempre sonhei.
5) Qual foi seu dia mais feliz de magistrada?
Não tenho como definir o “dia mais feliz de magistrada”. Existem dias e dias, todos com muitos desafios e realidades distintas, mas que me trazem a possibilidade de aprender e crescer como pessoa e profissional. Dessa forma, todos os dias me trazem felicidade porque, quando estou voltando para casa, sinto que fiz o meu melhor e que escolhi a profissão que me realiza.
6) O que mais a comoveu na atuação como juíza?
Todos os dias eu me comovo de alguma forma. A magistratura nos mostra a realidade social, por mais difícil que ela seja; a ignorância não é uma possibilidade. Constantemente me deparo com pessoas sem estrutura familiar que não possuem documentos pessoais, adolescentes sem perspectiva de futuro, crianças fragilizadas.
A situação que mais me comoveu foi o meu primeiro contato com um processo de violência sexual contra uma criança, ainda quando atuava no TJBA, e precisou depor em juízo. Lembro que o primeiro projeto que pesquisei, ainda quando fui fazer a inscrição definitiva no TJMS, foi sobre o depoimento especial e a estrutura que o nosso Tribunal dispõe para oitiva das crianças e adolescentes em tais situações de vulnerabilidade.
Também me comovo positivamente de modo constante, em especial quando percebo que as pessoas se sentem ouvidas durante as audiências e acolhidas pelo Poder Judiciário. Ainda, em que pese não seja minha atuação como juíza, durante o curso de formação fiquei muito feliz em ver o projeto do juiz Albino, que realiza reformas nas escolas em Campo Grande com dinheiro oriundo das penas pecuniárias.
7) Qual seu sonho de magistrada?
A magistratura sempre foi o maior sonho da minha vida. Sabia que os desafios seriam gigantes e atualmente vejo que são até maiores do que eu imaginava, mas o meu sonho ainda é o mesmo: de exercer uma função que possui relevância social e ter meios para influenciar positivamente na vida das pessoas.
8) O que gosta de fazer no tempo livre?
Ficar com a minha família, encontrar meus amigos, ouvir música, cozinhar, fazer atividades físicas e viajar.
9) Qual seu desafio pessoal e/ou profissional mais relevante?
O maior desafio pessoal é equilibrar a vida pessoal e profissional; estar constantemente compromissada com minha função sem descuidar da saúde, das relações familiares e de amizade.
Profissionalmente, meu maior desafio é não esquecer a razão pela qual eu escolhi a magistratura, continuar sendo grata e feliz no exercício da função, mesmo diante das dificuldades e cobranças diárias. Continuar me desenvolvendo intelectualmente, dedicando-me aos estudos para exercer de modo eficaz a jurisdição e manter um ambiente de trabalho leve e com pessoas que se sintam entusiasmadas.
10) Cite uma mulher inspiradora, brasileira ou não
Minha mãe: uma mulher forte, guerreira, extremamente independente e com o coração mais generoso que pode existir. Sempre esteve ao meu lado, me incentivando a buscar todos os meus objetivos sem desistir e, ao mesmo tempo, sendo o meu porto seguro.
11) O que diria hoje em uma frase a uma mulher que quer ser juíza?
É mais difícil do que parece e, ao mesmo tempo, mais compensador do que se pode imaginar. Vale a pena. Se eu pudesse escolher, faria tudo novamente.