Desa Maria Isabel deixa a magistratura com história de luta pela infância
Na sessão desta quarta-feira (15), os desembargadores do Tribunal Pleno votaram o pedido de concessão de aposentaria da Desa Maria Isabel de Matos Rocha e, depois de 33 anos dedicados à magistratura, ela deixou a carreira.
Maria Isabel é natural de Nanpula (Moçambique), formou-se em Direito na Universidade de Coimbra (Portugal) e ingressou na magistratura de MS em maio de 1985. Foi promovida, por merecimento, para a comarca de Camapuã, em janeiro de 1986. Por antiguidade, em setembro de 1988, foi promovida para a segunda entrância e passou a judicar na 2ª Vara de Cassilândia.
Em agosto de 1995, Maria Isabel foi promovida para a 1ª Vara da Infância e da Juventude de Campo Grande e posteriormente atuou também em Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos. Ela foi quarta mulher a compor a mais alta corte do Judiciário Sul-mato-grossense e a primeira mulher a ocupar o cargo de Coordenadora da Infância e da Juventude de MS.
Quando empossada para integrar a mais alta corte de justiça de MS, Maria Isabel foi questionada sobre as expectativas quanto ao novo cargo e respondeu com a simplicidade que se tornou marca registrada em sua personalidade: “Espero ser útil e contribuir para manter a justiça de MS entre as melhores do país”. Seis anos depois, ela se despede.
Muito respeitada pelos esforços e propostas desenvolvidas durante os 12 anos em que ficou a frente da Vara da Infância e da Juventude da Capital, a desembargadora é considerada um exemplo a ser seguido na magistratura.
Para o juiz Fernando Cury, presidente da AMAMSUL, a magistrada é uma pessoa de coração e espírito humano inigualáveis, profissional que deu a vida à causa da infância e juventude.
“Por onde passou, ela se doou - não só no horário de trabalho, mas durante seu espaço de família e de lazer. A AMAMSUL, ao mesmo tempo que sente a aposentadoria de uma magistrada ainda com plena força de trabalho, compreende a opção pessoal e agradece pelo exemplo de juíza, de colega, que sempre foi, tanto em primeiro quanto em segundo grau”, despediu-se Fernando.
O Des. José Ale Ahmad Neto, que com ela dividiu a 6ª Vara de Fazenda Pública e Registros Públicos da Capital, por alguns anos, revelou que o convívio diário com Maria Isabel fez com que percebesse sua grande preocupação com as questões que analisava nos processos, pois o fazia com ponderação e cautela. Para José Ale, a desembargadora é a pessoa mais íntegra que conheceu.
"Tenho por ela profunda admiração, como pessoa e magistrada, por seu inquestionável conhecimento e isso pode ser facilmente constatado nas sessões de julgamento. Ela tem uma grande personalidade e fará muita falta neste Tribunal. Compreendo que prefira usufruir de seu tempo e estreitar seus laços com a família e com mãe, que mora em outro país, mas é inegável que nos fará muita falta", disse ele.
O Des. Divoncir Schreiner Maran, presidente do TJMS, lembra que Maria Isabel já se destacava no começo da carreira na magistratura pelo fato de representar as mulheres em um cenário totalmente masculino.
“Destacou-se com seu trabalho incansável e deixa frutos, como o Projeto Padrinho. Como juíza, passou por Camapuã e Cassilândia, onde é lembrada com carinho. Depois veio para a Capital. É uma incansável estudiosa, abnegada da causa e muito requisitada para dividir seus conhecimentos em palestras nacionais e internacionais. Sei que, mesmo aposentada, continuará contribuindo com as causas que defende, agora como membro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, na Comissão MS”, comentou o Des. Divoncir.
Em sua última manifestação, a magistrada falou sobre o tempo. Lembrou de quando chegou ao Brasil, do nascimento do neto, do trabalho realizado na área da infância e juventude quando instituiu em MS o Projeto Padrinho, o Depoimento Especial, entre outros.
E citando Renato Russo, na canção Quando o sol bater na minha janela, ela se despediu: “Vou atrás desse sol, que bate à minha janela, abrindo-se para um novo tempo. Sejam felizes. Muito obrigada”.
O Procurador-Geral de Justiça, Paulo Passos, lamentou a saída da desembargadora e ressaltou que perde o estado de MS. “V.Excia tem um histórico de comprometimento e foi um privilégio tê-la no caminho de vida. Por onde andar, saiba que no MP tem amigos e pessoas que a admiram e respeitam”.