Juízes completam 15 anos de magistratura
O dia 10 de agosto é especial para 13 integrantes da magistratura sul-mato-grossense. Completam 15 anos de carreira os juízes Ana Carolina Farah Borges da Silva, Atílio César de Oliveira Jr., Caio Márcio de Britto, Francisco Vieira de Andrade Neto, Larissa Castilho da Silva, Liliana de Oliveira Monteiro, Marcelo Ivo de Oliveira, Patricia Kelling Karloh, Roberto Ferreira Filho, Rogério Ursi Ventura, Saskia Elizabeth Schwanz, Thiago Nagasawa Tanaka e Waldir Peixoto Barbosa.
Todos foram aprovados no XXIII Concurso para Juiz Substituto e, na época da posse, Roberto Ferreira Filho, aprovado em primeiro lugar, ressaltou a seriedade do concurso e contou que a preparação para um concurso dessa envergadura exige método de estudo adequado e bom preparo psicológico para realizar as provas com tranquilidade.
Ele estudou quatro meses antes, pois advogou por cinco anos, fazia mestrado e dava aulas, já estudando temas gerais. Como o pai era advogado e a irmã juíza, tinha uma referência da atuação das duas carreiras. “Era vice-prefeito em Paranavaí (PR) quando decidi trocar de carreira e pensei na magistratura por entender que, sem desmerecer nenhuma outra, é a principal função política do Estado que permitia, com independência, ajudar a transformação da sociedade”.
Quando ingressou na magistratura, Ana Carolina tinha alguns sonhos. Será que conseguiu realizá-los? Ela garante que sim. “Quando ingressei era muito jovem, apenas 24 anos, e tinha os sonhos próprios da juventude. Alguns realizei, outros foram sendo modificados ou substituídos ao longo dos anos. Mas com certeza me sinto bastante realizada na profissão que abracei”.
“Há exatamente 15 anos, cheio de esperança, sonhos e compromisso com a Constituição, com a democracia, com os direitos humanos, não tinha a exata dimensão do desafio que me esperava. Deixava minha família, amigos, a digna carreira de advogado, a importante e ainda iniciante carreira política, e me lançava em novas águas. Embora dividido entre o novo desafio e a saudade da história que ficava para trás, eu o fazia motivado”, contou Roberto.
Nesses 15 anos, os juízes atuaram em comarcas de vara única, de segunda entrância e atualmente todos judicam em entrância especial. Para a juíza Ana Carolina, a principal diferença entre as comarcas do interior por onde passou e Dourados, onde judica agora, é que no interior se aprende a ter jogo de cintura.
“Geralmente o número de processos é menor, especialmente no meu caso, que passei por comarcas consideradas tranquilas como Glória de Dourados e Fátima do Sul. Hoje estou em uma das varas de maior distribuição do Estado, que é a 1ª Vara Cível de Dourados. Entretanto, no interior a estrutura é mais reduzida e, muitas vezes, temos que resolver os problemas do dia a dia com criatividade. Temos uma grande vantagem no interior: a possibilidade de tratar cada caso com carinho, de conhecer as pessoas envolvidas, de buscar e conseguir a composição com maior facilidade. Na entrância especial há maior impessoalidade, temos que lidar com um número muito maior de processos, por isso o modo de trabalhar acaba também sendo bem diferente”explica ela.
“Em Amambai, minha primeira comarca, atuei como juiz substituto, aprendendo a usar a toga, a mudar de lado nas salas de audiências e nos processos. Depois, já como titular, veio Bataguassu. A seguir, foi a vez da querida Corumbá e sua co-irma, Ladário. Vivi anos intensos, emocionantes, memoráveis nessa linda terra. Foram vários os ensinamentos que de lá colhi. Lá, mais que nunca, aprendi que juiz deve ser mais que um julgador, deve ser um parceiro na construção de um mundo mais justo e humano”, rememorou o juiz.
Depois de 15 anos, como será que Ana Carolina Farah vê a magistratura para a qual ingressou?” Vejo a magistratura mais focada na prestação efetiva do direito do cidadão, mais comprometida com a sociedade como um todo, mais preocupada com sua função social. Vivemos um tempo de passar o Brasil a limpo e a magistratura vem exercendo com mestria seu papel, fazendo com que a lei seja aplicada a todos. Mesmo diante de todas as provações que temos passado enquanto instituição, o que se vê é o fortalecimento, a união da magistratura, que não cede diante das pressões e mantém-se firme como defensora do direito e da Constituição Federal”.
“Antes ingressar na carreira, você tem uma visão um pouco romântica daquilo que lhe aguarda”, confessa Roberto. “Os desafios parecem menores do que na prática os são, mas são todos superáveis. Acredito na magistratura - muitas vezes a salvaguarda, a reserva moral da sociedade, de quem não tem voz nem força social ou econômica. Seja um grande banco ou um desempregado, o respeito que o juiz deve ter pelo que está em jogo é exatamente o mesmo. Essa igualdade no acesso à justiça, essa igualdade com que as partes devem ser tratadas é algo que me motivou e me ajuda a enfrentar os desafios que a carreira nos apresenta”.
Para um juiz de carreira, depois da entrância especial, o próximo passo é atuar como desembargador. Alguns conseguem alcançar o cargo, outros aposentam sem ter essa meta alcançada. Então o que esperar da magistratura a partir desse ponto da carreira?
Ana Carolina espero ver esse caminho rumo ao futuro se concretizar. “Quando ingressei ainda despachava à mão, em pilhas e pilhas de processos de papel. Hoje temos o SAJ, os processos quase todos digitais e fazemos audiências por videoconferência. Várias mudanças que vieram contribuir para uma prestação de serviço mais célere e eficaz, o que é extremamente positivo para todos. Espero ver essas mudanças tornando nosso trabalho mais leve e prazeroso, de forma que possamos trabalhar com mais agilidade, com melhor qualidade de vida”.
“Olhando para trás reconheço minhas fraquezas, meus erros, minhas impossibilidades, mas também reconheço que ser juiz é ser um eterno aprendiz e enfrentar um diário processo de amadurecimento. O que diria para quem deseja ingressar na carreira? Que o façam por vocação, não pelo financeiro, estabilidade, pelo título ou pelo cargo. Mas por saber a responsabilidade que terá sendo juiz, que vai interferir diretamente na vida das pessoas e, se o fizer corretamente, será positivo. A profissão exige enorme responsabilidade. Tem que ter postura limpa, transparente - as pessoas concordando ou não com sua decisão. É natural que haja discordância e precisamos saber conviver com elas, mas as pessoas devem olhar pra você e ter confiança de que é uma pessoa proba, decente, que está fazendo o melhor possível para a solução daquele conflito”.