Homenagem a Nildo de Carvalho
Na última sexta-feira (22), faleceu Nildo de Carvalho, desembargador aposentado muito admirado e respeitado nos meios
jurídicos sul-mato-grossenses. Sobre ele, o desembargador aposentado Rêmolo Letteriello escreveu um artigo, que se resume em uma verdadeira homenagem. Leia a íntegra do texto:
Sobre Nildo de Carvalho
Restabelecia de uma cirurgia, quando recebi, no hospital, a notícia do falecimento do querido Nildo. Fiquei, por isso, impossibilitado de levar o meu adeus a esse admirável companheiro e fraterno amigo, e de me unir aos seus familiares, colegas, amigos, conterrâneos da velha Aquidauana, e a tantos quantos lhe foram prestar as últimas e sentidas homenagens.
Parece que foi o notável humanista Joaquim Nabuco quem escreveu que "o homem é um nome póstumo", querendo dizer que nós somos e seremos sempre lembrados pelas ações, boas ou más, que praticamos em vida.
De Nildo, sempre virá na nossa recordação a imagem de um ser que simbolizou um paradigma de integridade e dignidade, pois com essas qualidades, com altivez e cabeça erguida, conduziu a sua vida, tanto familiar como profissional.
Como chefe de família, só mesmo a sua Edy e os filhos Patrícia/Faracco e Nildinho, que com ele conviveram toda uma existência, podem revelar que extraordinário marido, pai e sogro foi, dedicando-lhes amor, afeto, carinho, proteção permanente, orientação cristã e segura formação, voltada para a prática do bem e o cultivo das virtudes que enobrecem o ser humano. Seus netos, que sempre o veneraram como um deus, não espiritual, seguramente, suportarão, por muitos e muitos tempos, as dores de uma forte saudade, amenizadas, entrementes, pelas lembranças mais belas do vovô Nildo.
Quanto a sua vida de magistrado, o depoimento é nosso, seus colegas de profissão. Todos os juízes que, como eu, militaram com ele na magistratura, nos longos trinta e sete anos de verdadeiro sacerdócio despendido no cumprimento de uma vocação, podem prestar o testemunho vivo da sua inteira entrega à causa da Justiça e da férrea vontade que tinha, de dar a cada um o que lhes pertencia, dentro da realidade da vida e das desigualdades humanas. Era um juiz que dispunha de invejável capacidade de trabalho, mantendo os seus serviços rigorosamente em dia, sempre solícito com advogados e partes, a quem atendia indistintamente para ouvir as razões e as súplicas de cada interessado. Dotado de um elevado espírito humanista, dava mais valor ao justo do que ao frio texto da lei e, com isso, impregnava as suas decisões, principalmente no âmbito do direito criminal, com altas porções de amor e compreensão. Em muitas ocasiões, constatamos que mal conseguia disfarçar comovida emoção e o verter de alguma lágrima, ao ter que julgar situações que traduziam desesperos e misérias de pobres jurisdicionados, que só tinham na Justiça a cidadela das suas últimas esperanças. Quantas vezes presenciamos, nas sessões de julgamento, no Tribunal de Justiça, a "briga" que travava com seus pares na defesa do seu ponto de vista, muitas vezes contestado, mas sempre respeitado, porque, sabiam todos, era a opinião de quem sustentava, ardorosamente, suas posições liberais, e de um calejado e experiente julgador, que bem conhecia as controvérsias submetidas à sua apreciação, sempre atuando com ética, probidade, correção, serenidade e independência, atributos que se exige dos verdadeiros juízes.
Nildo foi modelo não só de magistrado, mas igualmente de administrador, desmentindo os que pregam a inverdade consistente em que o juiz não sabe administrar. Tive a felicidade e a honra de sucedê-lo nas presidências dos Tribunais Eleitoral e de Justiça e posso certificar que encontrei naquelas duas Cortes as marcas de duas gestões desenvolvidas com extrema competência e eficiência, o que contribuiu para que, seguindo os seus passos, pudesse enfrentar, com tranqüilidade, os graves encargos de gerenciar aqueles órgãos do Poder Judiciário.
Que o legado de Nildo de Carvalho possa inspirar todos que ora integram a nossa Justiça, principalmente a nova geração de juízes, a quem se recomenda que se espelhe nessa criatura, que todos os justos reconhecem como padrão de Homem e de Juiz.
Rêmolo Letteriello - Desembargador aposentado