APAE de Cassilândia recebe doação de 125 bicicletas
A juíza Tatiana Decarli, diretora do Foro de Cassilândia, destinou para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) da comarca 125 bicicletas, resultado de apreensões em inquéritos policiais antigos e sem identificação dos proprietários. As bicicletas estavam na delegacia, deteriorando e acumulando água e mato, verdadeiro risco para a saúde da população.
Como não foi possível identificar os processos em que foram apreendidas as bicicletas e, se fossem leiloadas, seriam vendidas como sucata, com retorno financeiro insignificante, o diretor da APAE, Celso Eiti Namba, foi questionado sobre a possibilidade de reformar ou transformar as bicicletas em cadeiras de rodas, andadores ou mesmo recuperá-las.
Assim, na última quinta-feira (22), a APAE de Cassilândia e a AGEPEN, por meio do diretor do presídio da comarca José Ronaldo da Silva, assinaram um convênio para fabricação de cadeiras de rodas, andadores e recuperação das bicicletas doadas pelo poder judiciário.
Importante ressaltar que a destinação das bicicletas atende ao interesse social, pois a entrega à APAE permitirá que a comunidade de Cassilândia seja beneficiada com a transformação em cadeiras de rodas, macas e andadores destinadas a pessoas carentes.
Todo o trabalho de transformação e recuperação será feito por detentos do presídio local. A destinação das cadeiras de rodas, andadores e bicicletas reformadas para pessoas que delas necessitam será responsabilidade da assistente social da APAE, mediante prestação de contas ao juízo e ao Ministério Público.
“O diferencial desse projeto é agregar valor a esses bens, que seriam destruídos ou vendidos como sucatas, destinando-os a pessoas desprovidas de recursos. Esse trabalho será feito por condenados, contudo, será mais que um trabalho. Pretende-se que seja uma atividade que eleva a autoestima dessas pessoas e tem o potencial de transformá-las pela possibilidade de ajudar o próximo”, concluiu Tatiana.
Questionado sobre a importância desse novo projeto envolvendo as bicicletas, o presidente da APAE garantiu será um feito um bom serviço. “Como presidente da instituição há 7 anos, já vi passarem por aqui mais de 32 reeducandos e todos já estão trabalhando. Na APAE, eles sentem o coração as crianças especiais e ajudam. Lá eles fazem de tudo: uns dão aula, outros trabalham na horta, cuidam do cavalo, trabalham como mecânico, na pintura, na construção, como eletricista, e acabam tendo uma profissão”, explica Celso.
O reeducando Roosevelt Santos confessa que participar do projeto resulta em um sentimento de que o coração fica cheio, um sentimento bom de ajudar alguém e fazer o bem: e isso é importante. “A gente está pegando as bicicletas que estavam em pior estado, que eram sucata, e pintamos todas elas porque será uma doação. Para uma criança será um sonho realizado, pois nem todas as famílias têm condições de dar”, esclareceu o reeducando.
Participaram da assinatura do convênio as juízas Tatiana Decarli e Luciane Buriasco Isquerdo, diretor da penitenciária de Cassilândia José Ronaldo da Silva, o presidente da APAE-Cassilândia Celso Namba; o delegado Rodrigo de Freitas, a presidente do Conselho da Comunidade Renata Freitas da Silva Barbosa; a defensora pública Mariane Vieira Rizo, o diretor do Estabelecimento Penal de Regime Semiaberto e Assistência ao Albergado de Cassilândia Ben-Hur de Oliveira Tenório, e o sargento Gustavo Santa Proença, representando a Polícia Militar.
Conheça - A APAE Cassilândia atende 120 crianças portadoras de necessidades especiais.
“O Celso faz um trabalho incrível na APAE, pois tem uma criatividade ímpar e enxerga oportunidades em coisas mínimas. Ele transforma o que seria inutilizado em proveito dos pacientes da APAE e outras instituições. Exemplo disso, são as dependências construídas com sobras de materiais de reformas que ele junta com o pouco dinheiro de doações”, disse Tatiana.
A juíza referiu-se à sala para portadores de paralisia cerebral, academia, sala de informática e um centro multidisciplinar de atendimento, que permite aos alunos da APAE atendimento na própria instituição por fonoaudiólogos, psicólogo, psiquiatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e assistente social.
Foram também construídas oficinas de trabalho para fábrica de chinelos, fraldas descartáveis, estamparia de camisetas e chinelos e de confecção. E mais: tudo construído com mão de obra dos detentos que cumprem pena em Cassilândia.
Para manutenção das atividades, a APAE recebe doações particulares e firma convênios com o poder público, no entanto, o montante não é suficiente para as despesas. Assim, com a mão de obra de presos, são cultivadas hortas em 26 terrenos de pessoas que cederam o espaço. Nas hortas trabalham 10 presos do regime semiaberto e 50 condenados a cumprir pena de prestação de serviços à comunidade.
E o resultado é maravilhoso: mensalmente são 12 mil maços de alface, três mil maços de rúculas, cheiro-verde, salsinha, pimentão, berinjela, jiló, rabanete, couve, quiabo, cenoura, beterraba, pimenta, hortelã, almeirão, brócolis, mandioca, entre outras. As verduras são vendidas na feira e nas próprias hortas.
Com essas verduras também são atendidos gratuitamente crianças da APAE, pessoas do presídio, do Lar dos Idosos, Lar das Crianças, creches, CRAS, Projeto Amigão, casas de apoio de pessoas que estão em tratamento médico nas cidades de Campo Grande, Barretos e São José do Rio Preto mantidas pelo município de Cassilândia, além de igrejas da comunidade que desenvolvem projetos sociais.
“Em razão desse trabalho, a APAE foi selecionada para receber recursos oriundos das penas pecuniárias da comarca, que serão investidos para implantação de painéis fotovoltaicos para a geração de energia solar em pequena escala, direcionada para atendimento da demanda da instituição, a fim de proporcionar a melhoria do atendimento. O projeto foi orçado em R$ 22.179,57”, completou a juíza.
O reeducando Francisco trabalha na horta todos os dias, das 6 às 18 horas, há quatro anos e sente-se parte da família. Ele conta esse trabalho mudou sua vida e que, quando terminar de cumprir pena, não pretende deixar a APAE.
“Mudei 100%, porque eu não penso mais em fazer algo errado. Minha vida é ajudar as crianças. Gosto das pessoas de lá e gosto das crianças. Estou realizado e crime comigo, nunca mais”.
Paulo é outro reeducando a trabalhar na APAE. Ele está em livramento condicional e não precisaria continua lá, mas não quer sair. Ele conta que, quando foi para o semiaberto, o presidente da APAE oportunizou sua reintegração na sociedade e permitiu a ele mostrar seu outro lado.
“Comecei trabalhando na horta, depois dando aula de informática. O trabalho me ajudou a buscar a crescer na vida e se hoje estou na Universidade, devo isso ao sr. Celso, que sempre me apoiou. Ele me incentivou a estudar e a fazer o vestibular. Mostrou que, mesmo que cometamos erros, somos capazes de mudar. Ele acreditou em mim e está ajudando a mudar de vida. Eu me sinto realizado em trabalhar com essas crianças”.